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- Categoria: Coronavírus | covid-19
- By Fábio Reis
Plasma convalescente será usado para tratar Covid-19 em Araraquara e Santos
Na última sexta-feira (26), o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, anunciou, junto ao prefeito de Santos, Rogério Santos, e o de Araraquara, Edinho Silva, o início de um projeto piloto para utilizar plasma convalescente para tratar pacientes com Covid-19. Em ambas cidades, poderão receber o tratamento pessoas imunossuprimidas, com comorbidades e maiores de 60 anos.
O piloto em Santos e Araraquara está inserido no contexto do estabelecimento de uma rede para a coleta e distribuição do plasma convalescente organizada pelo Instituto Butantan. Para isso, cinco hemocentros com diversas unidades espalhadas pelo estado de São Paulo se tornarão pontos de coleta, armazenamento e distribuição do plasma hiperimune: H.Hemo, Pró-Sangue, Colsan, Hemocentro da Unicamp e Hemocentro de Ribeirão Preto.
Enquanto a hemorrede coletará o plasma de voluntários que já tenham tido Covid-19, os municípios de Santos e Araraquara montarão estruturas para avaliar o impacto de seu uso no tratamento de pacientes, sempre acompanhados pela equipe do Butantan. Se o piloto der certo, a ideia é expandir o tratamento para todos os municípios do estado. “Santos e Araraquara são pilotos controlados. Mas qualquer município que tenha banco de sangue pode incluir a terapia de plasma nos seus procedimentos”, explica Dimas Covas.
Há diversos estudos sobre o tratamento de Covid-19 com plasma hiperimune, alguns deles realizados no Brasil. Segundo Dimas Covas, a partir dessa base de conhecimento é possível concluir que o plasma não funciona tardiamente, ou seja, deve ser usado precocemente (após no máximo 72 horas do surgimento dos sintomas) e em volumes importantes. “Essas características estão sendo observadas no protocolo que foi validado pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e que está se tornando uma rotina em muitos hospitais”, completa o presidente do Butantan.
A utilização de plasma convalescente no tratamento de pacientes de Covid-19 é comum na Argentina, por exemplo. Além disso, o Butantan chegou a enviar a Manaus plasma convalescente para ajudar no tratamento de vítimas do novo coronavírus no auge da crise sanitária do Amazonas.
Por ser um tratamento já estudado e recomendado pela Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), o uso de plasma convalescente não precisa ser autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O protocolo da ABHH sobre o assunto pode ser consultado neste link.
O que é o tratamento com plasma convalescente?
O plasma é a parte líquida do sangue, e é nele que estão contidos os anticorpos. O objetivo de um tratamento utilizando plasma convalescente é transferir ao paciente, de maneira passiva, um quantitativo de anticorpos suficiente para combater o vírus. Dimas Covas compara o tratamento a uma vacina imediata: ele transfere anticorpos contra o novo coronavírus ao mesmo tempo em que o organismo do paciente responde pela sua imunidade normal.
O plasma convalescente é obtido por meio de doação voluntária de plasma de pessoas que já foram contaminadas pelo novo coronavírus e que, portanto, já possuem anticorpos. Para doar, é fundamental que a pessoa tenha sido contaminada pela Covid-19 pelo menos 30 dias antes do ato da doação. É preciso estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 kg, evitar alimentação gordurosa antes da doação e apresentar documento original com foto.
Apenas homens podem se voluntariar para doar o plasma de convalescente. Isso porque, durante a gestação, a mulher libera anticorpos na corrente sanguínea que podem causar uma reação grave chamada TRALI (transfusion-related acute lung injury) no paciente que recebe a transfusão.
Por que Santos e Araraquara?
Santos e Araraquara vão sediar o piloto porque os próprios municípios buscaram o Butantan (primeiro Araraquara, depois Santos) em busca de uma saída para a crise da Covid-19. Araraquara foi um dos primeiros municípios do estado a apresentar uma curva epidemiológica explosiva devido à variante P1 do novo coronavírus, enquanto Santos evoluiu rapidamente de uma situação de relativo controle para um crescimento preocupante no número de casos.
Dimas Covas relata que, ao ouvir as demandas dos prefeitos, o Butantan se propôs a ajudar, desde que antes fosse realizado um estudo piloto, com o qual os municípios concordaram.
“A parceria para a utilização do plasma nasceu de um pedido de socorro da prefeitura de Araraquara diante da curva crescente de contaminados, da pressão sobre o número de leitos e, consequentemente, do aumento de óbitos”, assinalou o prefeito Edinho Santos. “É uma tecnologia que temos certeza que dará resultados.”
Fonte: Instituto Butantan