Em Conferência Internacional, pesquisadores apresentam combinação de drogas que pode trazer avanços para o tratamento de pacientes duplamente infectados. Tuberculose é uma das principais causas da morte de HIV positivos.

Portadores do HIV precisam tomar vários medicamentos diariamente para manter o vírus da aids sob controle. Quando infectados pela tuberculose – o que acontece com bastante frequência –, eles precisam tomar ainda mais remédios.
Os problemas aumentam quando os medicamentos contra a tuberculose e o HIV interagem entre si no organismo. "Uma droga pode fazer com que as outras estejam presentes em quantidade maior ou menor", diz Mel Spigelman, presidente e diretor-executivo da Global Alliance for TB Drug Development (Aliança Global para o Desenvolvimento de Drogas contra a Tuberculose).

Com sede em Nova York, s também conhecida como TB Alliance é uma organização sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de novos medicamentos contra a tuberculose.

De acordo com Spigelman, "em particular a droga rifampicina, que faz parte do tratamento padrão contra a tuberculose, causa um grande número dessas interações com muitos dos medicamentos antirretrovirais que combatem o HIV.

Uma nova combinação de drogas criada pela TB Alliance poderia solucionar esse problema. "Até agora, não encontramos nenhuma interação que pudesse limitar a nossa capacidade de utilizar esses medicamentos em conjunto", afirma Spigelman.

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Redução do tratamento

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 8 milhões de novos casos de tuberculose aparecem a cada ano, dos quais um milhão resulta em morte.
"Tuberculose e HIV formam uma combinação letal, com uma doença aumentando o progresso da outra", afirma a OMS. "A tuberculose é uma das principais causas da morte de portadores de HIV, sendo responsável por um quinto dos óbitos."

Uma combinação de medicamentos chamada PaMZ acaba de completar a segunda fase de seu teste clínico, no qual os pesquisadores comparam a nova combinação de drogas ao tratamento habitual contra a tuberculose. Um quinto desses testes foi realizado em pessoas infectadas pelo HIV.
"Os resultados demonstraram que o PaMZ eliminou mais bactérias da tuberculose do que a terapia padrão e ainda o fez com maior rapidez", anunciaram os pesquisadores durante a 20ª Conferência Internacional sobre a Aids, em Melbourne, na Austrália. Eles acreditam que o medicamento poderia reduzir a duração do tratamento da tuberculose para quatro meses, diminuindo também os custos para apenas uma fração dos atuais.

Atualmente, o tratamento contra a tuberculose dura ao menos seis meses. No caso da tuberculose resistente a múltiplas drogas, a terapia pode levar até dois anos, durante os quais os pacientes são submetidos à quimioterapia extensiva e à aplicação de injeções que podem ter diversos efeitos colaterais.

Bactérias mais resistentes

"O PaMZ é formado basicamente por três antibióticos que combinamos há alguns anos, nos tubos de ensaio e, posteriormente, em animais", diz Spigelman.
Uma das substâncias, a pirazinamida, integra o tratamento atual contra a tuberculose, enquanto as outras duas – PA-824 e moxifloxacina – são novas candidatas. Os três antibióticos podem ser combinados numa só pílula.

Os pesquisadores afirmam que essa nova combinação irá não apenas eliminar as bactérias sensíveis aos medicamentos, mas também aquelas resistentes a múltiplas drogas, que não costumam responder à isoniazida e à rifampicina, as duas drogas mais poderosas contra a tuberculose.

A cada ano, esse tipo de tuberculose se desenvolve em cerca de 450 mil pessoas em todo o mundo. Spiegelman acredita que um terço desses pacientes poderia ser tratado com a nova droga.

"Entretanto, algumas das tuberculoses resistentes a drogas também resistem à pirazinamida e à moxifloxacina, dois dos medicamentos que utilizamos", ressalta, acrescentando que, para esses pacientes, seriam necessárias drogas ainda mais novas, que a TB Alliance espera disponibilizar no mercado futuramente.

Em busca de financiamento

A terceira e última fase dos testes clínicos será iniciada no final deste ano, abrangendo cerca de 50 locais de estudo na África, na Ásia, no Leste Europeu e na América Latina.
"Mas isso ainda não é certo, uma vez que ainda estamos em processo de arrecadar fundos para viabilizar os testes", diz Spiegelman. A Fundação Bill e Melinda Gates já anunciou um "apoio financeiro significativo", afirma a TB Alliance em seu website.

Isso, no entanto, ainda não é suficiente para financiar os altos custos da terceira fase de testes. "Do ponto de vista ético, não podemos iniciar um teste clínico até obtermos as garantias de que teremos recursos para concluí-lo", explica o presidente da organização.

Por esse motivo, em abril deste ano, Bill Gates fez um apelo para que outras organizações apoiem financeiramente a terceira fase de testes do PaMZ. "Os resultados da fase inicial da pesquisa sugerem que a aplicação dessa nova droga poderá fornecer o avanço de que necessitamos para acelerar o progresso contra essa doença fatal e perigosa", afirmou o presidente da Microsoft.

Fonte: Deutsche Welle