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- Categoria: Saúde
- By Fábio Reis
Especialistas debatem sustentabilidade do sistema de saúde suplementar
Modelos inovadores, tecnologias da informação, jornada do paciente e ética foram discutidos para aperfeiçoamento do setor
Em um contexto de envelhecimento da população, restrição de recursos para sistema de saúde e diminuição da renda como consequência do desemprego, especialistas debateram o futuro da saúde no país, na terceira edição do "Expand Access: Sistema de Saúde Suplementar sob uma Nova Ótica". Organizado pela Novartis, o evento ocorreu em São Paulo, no fim de agosto, e contou com uma plateia formada por profissionais do setor de saúde de diversos estados do país.
Modelos inovadores
Para Cesar Abicalaffe, professor especializado em desempenho na área de saúde, a tendência é que os sistemas deixem de seguir modelos de financiamento tradicionais para outros mais modernos, que terão uma nova configuração de responsabilidades para todos os envolvidos. "O recado aqui a ser dado é que os prestadores de serviço cada vez mais serão chamados para compartilhar o risco por quem paga", afirmou na abertura de sua fala.
Atualmente, o modelo fee for service (pagamento por procedimento) é o predominante na saúde suplementar brasileira. "No entanto, a lógica da remuneração por procedimento pode servir como desincentivo para a qualidade do serviço médico prestado", avaliou.
Para ele, cada vez mais modelos inovadores devem ganhar espaço, como é o caso do Capitation, que estabelece valor fixo de remuneração para o médico e a clínica de acordo com o número de beneficiários sob sua responsabilidade. Com base nessa perspectiva, o valor da remuneração é baseado na expectativa de uso dos serviços de saúde e o impacto em qualidade aos beneficiários. Outro modelo a ser mais empregado é o pagamento por
performance, que oferece incentivos financeiros para prestadores de serviços que atingem determinados resultados de tratamentos bem realizados.
Para o especialista, é importante deixar de pensar na remuneração por procedimento e passar a pensar no desfecho para o paciente, levando em conta critérios que comprovem a eficiência do tratamento para a saúde e qualidade de vida. "Se for pago pelo serviço ao paciente, o prestador de serviço pode limitar a qualidade do tratamento ao pagamento realizado. Já se for pago pelo serviço a uma população, o médico terá muito mais motivação para manter a qualidade do tratamento", afirmou.
De acordo com Abicalaffe, o conceito de valor pode variar para paciente, hospitais e indústria. No entanto, para ele, o melhor modelo é a razão da qualidade por custo. Para estabelecer esta razão, é preciso que haja dados de alto nível para avaliar os serviços prestados. "O mais dificil é a qualidade dos dados e os sistemas de informação desintegrados", afirmou.
Jornada do paciente
Outro tema debatido no evento foi a jornada do paciente, termo que define o conjunto de todas as etapas pelas quais o paciente passa desde o momento em que percebe algum sintoma até o final do tratamento, incluindo também o pós-consulta.
Gabriel Milanez, vice-presidente de Estratégia da BOX 1824, mapeou a vida de pacientes para entender os seus principais desafios ao longo da busca pelo tratamento adequado. De acordo com o especialista, desde que percebem os primeiros sintomas de uma doença, os pacientes passam por ciclos constantes de consultas sem conseguir ter uma solução de tratamento. Muitas vezes, esse ciclo só termina quando o paciente encontra o especialista correto, o que pode demorar bastante tempo.
Nesse ciclo incerto, pacientes muitas vezes passam a buscar conteúdo para lidar com a expectativa de um tratamento melhor em pesquisas no Google, em grupos de apoio e por meio de influenciadores. "Antigamente, a confiança vinha apenas de instituições, como a academia, e de pessoas com títulos. Com a rede, as relações se tornam mais horizontais e a confiança é distribuída entre instituições e pessoas, que muitas vezes são desconhecidas". E complementou: "para pessoas que vivem em sociedade em rede, as jornadas de investigação médica e pesquisa na rede coexistem".
Saúde na era digital
De acordo com Júlio Zaguini, consultor da Tech & Innovation, o investimento em tecnologia será decisivo para definir o novo ambiente empresarial do futuro, determinando as companhias que irão sobreviver à era da transformação digital. Esse é um contexto de muita oportunidade, haja vista que o conhecimento humano cresceu exponencialmente por meio da troca de informação nas redes. "Vocês da área de saúde estão na indústria que vai mudar o mundo. É onde está o investimento em conhecimento e inteligência", avaliou.
Em sua apresentação, mostrou ferramentas de inteligência artificial que vão mudar a indústria e a vida das pessoas, como equipamentos screenless (sem tela), em que profissionais da saúde se comunicarão com computadores por meio de voz ou eletroencefalografia.
Um exemplo: com o reconhecimento vocálico, e por meio de realidade aumentada, médicos hoje já podem ter acesso a informações via holograma na mesa de cirurgia, trazendo informações necessárias aos procedimentos. Além disso, enfermeiros podem visitar pacientes e, por meio de sistemas inteligentes, adiantam a consulta a ser realizada com médicos especialistas, contribuindo para a melhor jornada do paciente.
A ética na saúde
O evento foi encerrado com palestra do historiador Leandro Karnal, que tratou da importância da ética no mundo dos negócios. Para ele, em todos os setores, ser ético vale a pena, porque ajuda a evitar problemas futuros. Em determinados momentos, uma pessoa ou companhia pode seguir caminhos incorretos para adquirir ganhos momentâneos, mas o resultado de longo prazo não é sustentável.
Na avaliação de Karnal, a ética está relacionada à perfectibilidade do caráter humano e, por isso, sempre há espaço para melhorias comportamentais e de processos em diversos setores, como na saúde. Ao contrário do que muitos pensam, ser ético é uma busca contínua para a vida das pessoas e das instituições, demandando esforço permanente e constante para tornar-se hábito e para gerar resultados sustentáveis. Para o historiador, ética dá segurança e agrega valor.