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- Categoria: Saúde
- By Fábio Reis
Argentina testará tratamento mais curto com benznidazol para Doença de Chagas
Novo estudo poderá confirmar a eficácia de um tratamento mais curto e com menos efeitos colaterais para a doença de Chagas.
A Argentina será o primeiro país a confirmar se um regime mais curto de benznidazol, com menos efeitos adversos, tem potencial para se tornar um novo tratamento-padrão para pacientes adultos com doença de Chagas em fase crônica.
O estudo clínico NuestroBen, aprovado pela autoridade reguladora ANMAT, será realizado em 6 centros de estudo nas cidades de Buenos Aires, Corrientes e Santiago del Estero, sendo coordenado pela Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) em parceria com Elea e a Fundação Mundo Sano, com supervisão do Ministério da Saúde da Argentina.
“Fizemos o primeiro estudo controlado na Bolívia entre 2016 e 2018 para avaliar a eficácia de vários regimes de benznidazol e observamos que duas semanas de tratamento são tão eficazes quanto oito e nenhum paciente descontinuou definitivamente o tratamento por causa de efeitos colaterais”, explica Sergio Sosa-Estani, diretor do Programa Clínico de Chagas da DNDi. “O NuestroBen pode confirmar essas observações com um número maior de pacientes na Argentina, bem como o Benlatino e outros estudos que estão em preparação para serem lançados em outros países da América Latina, para que as pessoas afetadas por Chagas possam adotar o novo regime se esses resultados forem confirmados”, afirma Sosa-Estani.
Estima-se que 6 milhões de pessoas estejam infectadas em 21 países da América Latina, de 6 a 7 milhões no mundo, e que 75 milhões de pessoas corram o risco de contrair a enfermidade. A doença de Chagas é uma doença tropical negligenciada e silenciosa causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, que é transmitido aos humanos por um inseto chamado barbeiro, vinchuca ou chinche dependendo da região geográfica. O que se espera com um regime mais curto é aumentar a adesão ao tratamento, melhorar o perfil geral de risco versus benefício do tratamento e ampliar a cobertura do tratamento.
As medidas adotadas para o controle da transmissão da doença por vetor e por transfusão avançaram consideravelmente, e a transmissão congênita se tornou proporcionalmente mais relevante nos países latinos, além de ser a principal fonte de novos casos em regiões não endêmicas. Segundo estimativas da OMS, ainda há 1,12 milhão de mulheres em idade fértil infectadas na América Latina, onde se espera que entre 8.000 e 15.000 bebês nasçam com a doença a cada ano.
“Se os resultados esperados forem obtidos, este estudo aumentará a adesão ao tratamento da doença de Chagas, favorecendo toda a população afetada, inclusive meninas e mulheres em idade reprodutiva. Dessa forma, vamos favorecer a prevenção da transmissão vertical dessa doença e tornar realidade um futuro no qual não nasça Nenhum Bebê com Chagas”, afirma Marcelo Abril, diretor executivo da Fundação Mundo Sano.
“A doença de Chagas é um problema que afeta a saúde pública, e a colaboração público-privada é fundamental para o seu controle. O trabalho realizado há alguns anos com o desenvolvimento do benznidazol na Argentina mostra que o esforço conjunto é possível, principalmente quando visa melhorar a vida das pessoas que vivem com a doença de Chagas. Hoje, no nosso país, contamos com 3 formulações produzidas inteiramente na Argentina, que abastece a região das Américas. Além disso, temos uma formulação pediátrica que permite uma melhor administração em lactantes infectados com a doença”, explica o Dr. Matías Deprati, diretor de assuntos médicos do laboratório Elea.
Sobre a DNDi
Organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento, a DNDi trabalha para disponibilizar novos tratamentos para populações desatendidas que vivem com doenças negligenciadas, em especial doença de Chagas, doença do sono (tripanossomíase humana africana), leishmaniose, filarioses, micetoma, HIV pediátrico e hepatite C. A DNDi também está coordenando um ensaio clínico para encontrar tratamentos para casos leves e moderados de COVID-19 na África. Desde sua criação em 2003, a DNDi produziu nove tratamentos, incluindo novas combinações de medicamentos para leishmaniose visceral, dois antimaláricos de dose fixa e a primeira entidade química que desenvolveu, o fexinidazol, aprovada em 2018 para o tratamento das duas fases da doença do sono. www.dndi.org